Na pitoresca Linha Kennedy, no Quilombo, Dona Nelva mantém viva uma tradição centenária com a produção de cachaça de alambique. Com mais de 20 anos dedicados à arte da destilação, ela transforma a cana-de-açúcar cultivada em sua propriedade de quatro hectares em uma gama diversificada de bebidas que encantam os paladares mais exigentes.
O Ofício Aprendido e a Inovação Pessoal
Dona Nelva aprendeu o ofício da cachaçaria com seu pai, herança que não só preservou, mas também expandiu com criatividade e paixão. Além das tradicionais cachaças amarela e com funcho, Dona Nelva desenvolveu um portfólio de 12 licores variados, todos preparados com frutas cultivadas em sua propriedade. Entre suas especialidades estão a graspa da casca da uva, o cointreau, o campari, e uma receita de quinado que aprendeu com seu avô. Sua inovação não para por aí: ela também se aventurou na produção de whisky, ampliando ainda mais a diversidade de produtos oferecidos.
A dedicação de Dona Nelva vai além da produção de bebidas. Sua propriedade é um verdadeiro refúgio, oferecendo aos visitantes a oportunidade de experimentar produtos de alta qualidade em um ambiente rural acolhedor. Os visitantes podem não apenas degustar as bebidas, mas também desfrutar de momentos agradáveis em um espaço que exala calor e hospitalidade.
Mercado da Cachaça no Brasil: Tradição e Evolução
A cachaça, uma bebida tipicamente brasileira, tem suas raízes na chegada dos portugueses ao Brasil, por volta de 1530. Influenciada pelas técnicas de destilação da bagaceira portuguesa, a cachaça tornou-se um ícone da cultura brasileira. Inicialmente vinculada à economia colonial, sua trajetória acompanhou a expansão da cana-de-açúcar e a mineração de ouro em Minas Gerais. No passado, chegou a ser utilizada como moeda de troca, e há relatos de que era a bebida preferida dos Inconfidentes.
Durante muito tempo, a cachaça foi estigmatizada como uma bebida de menor prestígio, associada a classes sociais menos favorecidas. No entanto, com o passar dos anos, a cachaça passou por um processo de sofisticação e valorização, especialmente no mercado internacional. Atualmente, ela é reconhecida como uma bebida nobre, com uma indústria em expansão e uma produção que reflete sua evolução.
De acordo com o Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), o Brasil possui uma capacidade produtiva de 1,2 bilhão de litros anuais de cachaça, embora a produção real seja cerca de 800 milhões de litros. Em 2021, foram exportados 7,22 milhões de litros, representando apenas 0,876% do total produzido, mas com um aumento significativo no faturamento e no volume em relação ao ano anterior.
O Anuário da Cachaça 2021 revelou que o Brasil conta com 1.131 produtores registrados de cachaça e aguardente, um aumento de 4,14% em relação a 2019. No entanto, a informalidade ainda é um desafio, com 89% dos produtores fora do cadastro oficial do Ministério da Agricultura. O Censo IBGE de 2017 indicou 11.023 estabelecimentos produtores no país, e o Ibrac estima que a cadeia produtiva da cachaça emprega mais de 600 mil pessoas, diretas e indiretas.
O Potencial da Produção Informal
Apesar da informalidade, a produção de cachaça possui um alto potencial econômico para o Brasil. O Sebrae desenvolveu materiais de apoio para ajudar pequenos empreendedores a produzir e formalizar seus negócios, promovendo o crescimento do setor. A combinação de tradição, inovação e apoio institucional pode consolidar a posição da cachaça no mercado, oferecendo oportunidades para produtores como Dona Nelva e outros que continuam a enriquecer a cultura e a economia do país.
Com uma variedade de opções para degustação e uma rica história por trás de cada garrafa, a cachaça de Dona Nelva não é apenas um produto; é uma experiência que celebra o melhor da tradição brasileira e a inovação artesanal.
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